sábado, maio 29, 2010

FABULOSO. PONTO DE EXCLAMAÇÃO!


"É difícil encontrar uma pessoa que a aceite como é, com seus defeitos e qualidades. Felizmente eu tive a sorte de econtrar três delas [Charlotte, Samantha e Miranda]"
CARRIE BRADSHAW - 3ª TEMPORADA DE SEX AND THE CITY


Os seriados são fontes de diversão, de estímulo para reflexão sobre os problemas não-fictícios do dia-a-dia, de identificação e, claro, de divergências e competição. As minhas preferências por seriados atendem à minha própria lógica e, nesse caso, não importa muito a opinião dos outros, da crítica e nem há a pretensão de converter quem quer que seja às minhas ideologias. É tudo uma questão de gosto pessoal, é definitivamente, uma questão minha (e de algumas pessoas que consensualmente compartilham da mesma opinião).
Sex and the city é o seriado que trouxe pra pauta das discussões cotidianas temas muito mais abrangentes que sexo e moda. E quem fala aqui não é uma representante da crítica especializada, é uma pessoa comum, leiga do ponto de vista analítico e técnico, cuja opinião despretensiosa se fundamenta apenas na sua história de vida e de identificações. Pra mim Sex and the city é simplesmente fabuloso. Ponto de exclamação!
Sexo está (ou pode estar) presente em qualquer relacionamento (dito) saudável, portanto, o ponto não é o fetichismo no sexo em si, mas a maneira como ele é visto nos relacionamentos. E esta é uma série que fala, sobretudo, de relacionamentos (todos eles). Sexo pode ser um tema, que pelo menos na cultura nordestina (muito diferente da nova iorquina), ainda é tabu e pode mexer com os conteúdos de muita gente. Mas esse incômodo é compreensível.
O que eu gosto em SATC é o modo como as personagens encaram esses problemas comuns, com humor, glamour e humanidade. Como eu gosto da humanidade que há em Carrie, Miranda, Charlotte e Samantha, de como elas mostram que qualquer mulher pode trazer consigo tudo de melhor e de pior sem se despersonalizar. Porque não há em Carrie só neuroses e (aparentes) futilidades, há também inteligência, sagacidade e dedicação a suas amigas. Não há em Miranda só ironia e ceticismo, há também disponibilidade para mudança e para o amor. Samantha não vive só para sexo porque eu também vejo nela determinação, força e solidariedade e Charlotte não é feita só de puritanismo, mas também de sensibilidade e fé no amor e nas pessoas.
Interesso-me pela história dessas quatro mulheres pela diversão que cada episodio proporciona, pelas associações que cabem na minha própria história pra modificar pontos de vista e posturas, pelo elo que une minhas amigas a mim, nosso ponto de interseção, nossa fonte de assunto e de analogias a acontecimentos que estão bem aqui, tão distantes de NY, mas que combinam com a nossa realidade e caem tão bem quanto um Dior ou um Manolo Blahnik. Porque essas mulheres nos fazem pensar em nossos investimentos afetivos (de toda espécie) e nos ajudam a ver com crítica a maneira como nos alienamos a alguns amores em negligência de outros, nos mostra a possibilidade do meio termo, do desenvolvimento da tolerância e da compreensão mesmo que em algum momento haja julgamento, insatisfação ou cobrança. A amizade mostrada neste seriado é algo que me comove porque fala de amor na medida certa.
Esse seriado trouxe a proposta de posicionar a mulher no mundo de uma outra forma (não só a mulher solteira que quer casar e ter filhos, mas também a mulher que não deseja casamento e família e não vê problema em sua solteirice, a mulher que não vive em função de um homem etc), desnaturalizou os conceitos sobre amor e sexo, sobre afeto e afetividade e até sobre gênero. Ressignificou a angustia da espera sofrida pela alma gêmea, casamentos e homens perfeitos, tratou de crises de identidade e de idade com humor e sensibilidade. Enfim, conflitos humanos que revejo sem cessar e sem cansar pra continuar instigando minhas próprias reflexões, sem frases de impacto, sem chegar a conclusões que fazem você chorar deprimida. SATC não usa esse tipo de apelo, ele desperta sentimentos e constatações de outra ordem, da ordem do comum, mas igualmente tocante.
Repito: é dessa humanidade dos personagens em SATC que eu gosto. Eu gosto de pensar que os problemas que se desenvolvem nessa história fictícia podem acontecer no meu trabalho, na minha rua, no meu mundo e não em lugares descontextualizados como centros cirúrgicos, cenários policiais ou sobrenaturais ou em ilhas paradisíacas do Pacífico. Eu gosto da forma despretensiosa de falar do cotidiano feminino sem apelar pra discurso piegas de filosofia barata. Sex and the city não trata a vida de forma exageradamente artificial nem tem a presunção de dar grandes  lições de vida e isso eu acho digno!