segunda-feira, dezembro 26, 2011

Senhor Jesus

Eu sei que estou um pouco atrasada, mas neste Natal, queria deixar o registro dos meus votos de um Feliz Aniversário. Nem vou pedir nada, só queria mesmo agradecer toda a ajuda, todo o suporte que tens me dado. Agradeço pelo meu trabalho, pelos amigos que me acompanham, pela família que amo, pelas mudanças que tenho vivenciado, pela minha saúde, que mesmo capenga, ainda tem sustentado meus projetos diários. Agradeço pelo Amor que cultivo em mim, pelos outros, por mim mesma e por Ti. Agradeço em nome da fé que nunca me deixou cair, mesmo nos momentos mais difíceis e desesperadores. Essa fé que me fez ser quem sou e que tem feito eu me orgulhar (muito) disso. Essa fé que mantém meus projetos em perspectiva e que me salva dos inúmeros transtornos mentais que me rodeiam, mas que nunca chegaram até mim. Por causa da fé que tenho em Ti.

Eu disse que nem queria pedir nada, mas eu vou pedir. Perdão! Pelas vezes que reclamei do meu trabalho, dos meus amigos, da minha família, das mudanças que tenho vivenciado e da minha saúde capenga. Pelas vezes que duvidei de mim e da minha fé na vida e nas pessoas. Pelas vezes em que eu esqueci de agradecer pelas minhas conquistas. Principalmente, por ter, durante anos, esquecido que esta data se refere a seu aniversário e, portanto, não sou eu que tenho que ganhar presente. E sendo seu aniversário, peço perdão por ter alimentado uma nostalgia e melancolia despropositadas nesta data e não a alegria de celebrar um evento de tamanha grandeza. Peço perdão pela preocupação em reunir a família, em perdoar, em ter compaixão, apenas nesse dia. Prometo levar este momento de consciência pro resto do ano e pro resto da minha vida. Eu, que já fiz cartas pra tanta gente e sob tantas motivações, desta vez, escrevo uma carta pra registrar meu Amor. Pra que eu nunca mais esqueça!

sexta-feira, dezembro 16, 2011

Poderia ser pior

Existem coisas na vida que não poderiam dar mais errado. Dias em que seria melhor nem ter levantado da cama pra enfrentar a selva de concreto. Momentos de arrependimento profundo em que você se lamenta por ter feito o que fez e da forma que fez. A seguir alguns exemplos e formas alternativas de pensar a vida.

Se você foi cuidar da papelada pra tirar sua CNH e, sem saber que teria que tirar foto, não colocou um mol de maquiagem porque tinha que ganhar tempo e o seu cabelo, que parecia querer fugir da cabeça, estava sendo contido por apenas uma liga, tudo bem. Poderia ser pior. Além de não estar maquiada você poderia estar com um tersol ou uma conjuntivite e poderiam ter grudado chiclete no seu cabelo.

Se você perdeu tempo esperando o sinal abrir e também o último ônibus que passou em horário digno, não se culpe. Poderia ser pior. Você poderia ter sido atropelado na pressa de alcançar o motorista apressado.

Se você se aborreceu com seu amor porque ele nunca nota qualquer mudança de visual ou porque ele nunca compartilha seus segredos com você, relaxe. Poderia ser pior. Além de não notar suas mudanças estéticas ou não compartilhar segredos ele poderia ser um opressor, lhe tratar mal, desrespeitar sua autonomia e desconsiderar seu ponto de vista sobre tudo.

Se você não passou naquele vestibular, naquele teste, naquela entrevista de emprego, não esquente. Poderia ser pior. Você poderia estar prestes a fazer um curso insuportável, a ter um emprego monótono e desmotivador ou ser obrigado a fazer parte de um mundo ao qual você teria a sensação de não pertencer.

Se você finalmente teve coragem de confessar seu amor a alguém que não pôde lhe corresponder, não se desespere. Poderia ser pior. Ele poderia ser aquela figura opressora que lhe trataria mal, desrespeitaria sua autonomia e desconsideraria seu ponto de vista sobre tudo.

E se você vê tudo pela perspectiva da catástrofe, esclareço: eu quero dizer que não importa quão ruim seja um evento, mesmo que ele seja a pior coisa já acontecida na história da sua vida, há sempre grandes possibilidades de sobrevivência. Então, por que perder tempo com lamentações desnecessárias? As coisas são como são e mais: como podem ser. Se a vida te der um limão, junte gelo, açúcar, vodka e faça uma caipirinha. Se você prefere evitar hábitos deste tipo, faça uma limonada, mesmo sendo mais clichê. Até porque não adianta muito se consumir de desespero pelas frustrações vividas. Isso pode até servir pra reorganizações e posicionamentos futuros, mas se encerrar no sofrimento pelo que não saiu como se planejava é um desgaste realmente dispensável.

quarta-feira, dezembro 14, 2011

Além do capital

Eu não consigo mais admitir que haja dignidade em trabalhar como um mouro, mas insatisfeito.  Eu não consigo entender a lógica de que pra valorizar o suor do rosto, vertido às custas de muito sacrifício e sofrimento, seja preciso trabalhar até a morte ou até os limites da saúde. Se bem que entender a lógica eu até entendo. É que no capitalismo, pra aumentar a sua cotação no mercado, é preciso que você prove que pode produzir em quaisquer condições. Eu até entendo, mas não concordo. Se eu já achava absurda a máxima de que sinônimo de amar é sofrer, tampouco considero a possibilidade de que sofrimento valorize o trabalho, o ofício de uma pessoa. Sofrimento não valoriza nada, mas existe uma cultura sádica e/ou masoquista que insiste em igualar sofrimento a mérito. É justamente essa cultura do mérito que é responsável por essa loucura toda. Pra justificar o orgulho de pendurar no pescoço aquela medalha de honra que reafirma que o sujeito abdicou de uma vida mundana, de prazeres desnecessários pra produzir (ou reproduzir?) conhecimento, dinheiro, cultura. Porque a medalha de honra e o quadro de funcionário do mês vão sempre pra aquele que trocou o lazer, o bem estar e porque não dizer a indolência (?!) por horas de estudo, de trabalho e por isso será recompensado. É essa cultura do sofrimento como mérito que embota nossos afetos, nossa inteligência e nossa crítica. Afinal, somos brasileiros e não desistimos nunca, não é?

Para com isso, Capitalismo! Por que nos referimos ao termo “dia útil” como um dia de trabalho ou de estudo? Fins de semana e feriados são inúteis? Só porque nesses dias é muito mais útil desfrutar de um almoço em família, de um abraço, de um seriado, de um filme, de boa música, de uma boa conversa, dos nossos amigos, filhos, afilhados, sobrinhos, namorados, maridos ou simplesmente da delícia de não ter nada pra fazer? Porque provavelmente não estejamos preocupados em entupir nossos currículos de propaganda pessoal, com títulos e feitos que deveriam preencher, no mínimo, umas trinta paginas pra que o nosso rótulo de profissional capacitado seja colocado nas prateleiras de maior consumo? Porque não estamos interessados em competir pela atenção do chefe só pra matar nossos concorrentes de inveja? É sério. Isso não tem mais graça. E a mim não convence mais que é o justo e bonito.

Até porque agora eu sei que no fim das contas quem paga uma fatura altíssima sou eu. Minha saúde tem limite de crédito. E eu não posso mais negligenciar isso porque a conta está sendo cobrada com juros. E eu só posso pagar o mínimo porque não consigo mais ter tempo pra mim. Porque se eu quiser tempo pra mim vou ter que assumir o rótulo de irresponsável, fraca e preguiçosa (injustamente). Eu sei que preciso pagar minhas contas. Eu sei que esse é meu mundo e eu preciso me adequar da melhor forma que conseguir. Eu sei que, como diria uma professora minha, ao citar Lacan, a gente goza no capitalismo. Eu sei que o Código de Doenças Internacionais (CID-10) está aí pra diagnosticar as conseqüências dessa relação doentia com o mundo, relação de submissão que faz parte da nossa condição atual. Eu sei que se eu pudesse me enquadrar em mais um rótulo estaria na transição subversiva entre o workalolic e o *workafobic. E se você passa a ter pavor do trabalho a fase seguinte seria rasgar dinheiro. E todos sabem que o que isso quer dizer na cultura popular.

Eu sei que preciso de um ofício. E aí está a razão dessa luta que assumi em nome do meu bem estar. Um ofício não precisa ser sofrido, não precisa ser desumano. Um ofício pode ser amado e pode trazer satisfações. E quando falo de satisfação não me refiro a títulos, a um salário com incontáveis dígitos, à comodidade oferecida por concursos públicos, à admiração das pessoas por eu ter conseguido além de um lugar ao sol, o prestígio conquistado com esforço e determinação. Um ofício pode ser leve e render dinheiro suficiente pra pagar suas despesas e pequenos luxos. É possível que exista prazer em oferecer um bom trabalho, em ajudar alguém que pode vir a ser mais que um cliente, sem desenvolver uma úlcera ou um transtorno de ansiedade. Um ofício pode ser bonito sem ser piegas ou voluntário. Um ofício precisa deixar tempo livre pra fazer coisas só por vontade e aí reside a lógica do trabalho voluntário. Um ofício é uma prestação de serviço, mas pra isso não precisa perder sua condição humana. Um ofício deveria nos oferecer a possibilidade de termos um lugar no mundo e não a obrigação de competir alienadamente pra poder bancar esse lugar.

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* Que eu saiba o termo workafobic não existe, foi a tentativa de um trocadilho com o termo workaholic.

terça-feira, dezembro 13, 2011

OS BONITOS QUE ME PERDOEM, MAS SENSO DE HUMOR É FUNDAMENTAL

Pessoas influentes são capazes de eternizar jargões. A célebre constatação de Vinicius de Moraes sobre as mulheres que diz “As feias que me perdoem, mas beleza é fundamental” indica que os homens gostam mesmo é de mulher bonita, sendo este, muitas vezes ou pra muitos deles, o único critério ou, pelo menos, o primeiro que chama a atenção.

Em uma entrevista sobre a trajetória da Tati Bernardi como roteirista me chamou a atenção uma coisa que o Alexandre Machado, marido da Fernanda Young, comentou. Que senso de humor nas mulheres não atrai os homens. Na hora me veio um pensamento inevitável, quase intrusivo: deve ser por isso que eu não me arranjo.

Pensando nisso, cheguei à única conclusão possível pra mim. Com licença, Vinícius, posso parafrasear seu raciocínio? Os bonitos que me perdoem, mas senso de humor é fundamental. Até porque não há outra saída pra mulher bem humorada.

Se a mulher solta uma piada espirituosa sobre o trânsito congestionado, sobre suas histerias, sobre sua TPM, sobre seus desesperos, sobre seus destemperos, sobre sua solidão, sobre suas loucuras, sobre suas insatisfações sobre seu homem, sobre a família dela, sobre a família dele e o sujeito não ri, não esboça reação, não move sequer um músculo facial, meus queridos, não tem como seguir nesta relação.

E não é nem pelo fato da piada ter ou não ter graça, é da incapacidade alheia de ver graça nas coisas. Eu imagino que a mulher que tem senso de humor esteja mais próxima do melhor amigo do que de uma gata desejável. Porque mulher pode ser até inteligente, culta, mas engraçada, não. Engraçados são os caras do Improvável. A mulher do cara tem que ser gostosa.

Até porque deve ser difícil um rapaz, ao descrever sua peguete pros amigos, falar “cara, ela é doce, inteligente e engraçada. Adoro quem me faz rir”. Provavelmente diante da estupefação dos colegas o sujeito teria que completar a frase pra não se sair tão mal: “... e tem uma bunda, meu amigo”. Uhu!

Provavelmente um homem não gritaria Uhu!, mas enfim. Outra coisa inconveniente no relacionamento entre uma engraçada e um sem graça são os trocadilhos. Não há nada mais humilhante do que ter que explicar trocadilhos. Até porque piada nem precisa ter lógica, se precisar de explicação não faz mais sentido. É uma situação vexatória porque dessa forma o sujeito atesta seu estado de demência. As conseqüências desta opressão contra o bom humor é que o namoro acaba morrendo na monotonia, já que a única coisa que resta de comum são os beijinhos e amassos abraços. Que até satisfazem o homem sem graça por um tempo, mas deixa a mulher bem humorada saturada pela censura.

Eu gosto do meu senso de humor. Acho que é uma virtude e uma defesa pra enfrentar essa vida louca. Não acho, sinceramente, que seja uma qualidade que deva passar sem ser notada, apesar de ter quase certeza que pros homens é uma coisa acessória. Se a mulher vier com senso de humor, bacana, se não, ninguém se importa. Quer dizer: eu me importo. Com o meu senso de humor e com o senso de humor do meu parceiro. Porque não dá pra compartilhar intimidade com quem não consegue achar graça da vida.

quarta-feira, dezembro 07, 2011

Poesia concreta e colorida

Se preciso de um pouco de cor
É pra amortecer o que eu já sei de cor
Mas que o coração não tem coragem de dizer.

É o medo que dá que os dias cinzas
Não encontrem mais beleza no preto e branco.

NOVA (?) ESTRATÉGIA DE ENFRENTAMENTO DA ANSIEDADE:


Minha velha amiga Ansiedade,

Em nome da convivência de tantos anos, venho por meio desta lhe fazer um pedido e espero que seja atendida. Você bem sabe que tem sido a companheira de uma vida inteira, estando presente nos momentos mais importantes e porque não dizer, tensos da minha curta história. Você esteve por perto, vigiando e controlando cada detalhe dos grandes acontecimentos da minha biografia como meu primeiro dia na escola, meu primeiro beijo, minha primeira paixão, minha primeira desilusão, a primeira vez em que tive pavor de ser aniquilada e não poder mais me recuperar, no dia do vestibular, no primeiro dia de aula na universidade, quando fui contratada no primeiro estágio e no primeiro emprego, nos momentos de coragem e de covardia, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença e assim estará até que a morte nos separe. A propósito, é sobre o nosso relacionamento que gostaria de falar. Nem seria com a finalidade de discutir a relação. Como falei, é mais para fazer um pedido. Na verdade, é mais pra impor uma condição.

Eu não quero que você pense que isso é um gesto de desconsideração. Não é. Reconheço a porção positiva de sua presença cotidiana. Mas pra ser sincera, eu preciso que agora você me motive pra algo impulsivo, que gere mudanças significativas na minha vida, porque eu não sou mais a mesma. Você bem sabe disso. Você e seu amigo Saturno sabem muito bem do que eu estou falando. Portanto, se você quiser continuar ao meu lado vai ter que se enquadrar nestas mudanças. Vai ter que funcionar na minha vida de uma forma mais produtiva. Agora é a hora de você provar sua lealdade e companheirismo. Eu não posso mais ser como antes e você não pode me abandonar porque faz parte da minha constituição, logo, não lhe resta alternativa. 

Como pode ver você não me impõe mais medo, porque eu já entendi a sua função na minha existência. Aquelas conversas mentais que tenho comigo mesma pra organizar a bagunça que você provoca dentro de mim têm me sido bastante úteis. Por isso eu preciso que você seja o dispositivo que poderia me levar à intempestividade necessária pra sair do lugar de acomodação que por agora me encontro, pra assumir uma postura mais funcional. Até mesmo porque se eu estou orientada a reconhecer e assumir minha condição de adultescente, você também vai ser obrigada a amadurecer junto comigo. É uma questão de lógica, mas não é uma questão de escolha. Não sua.

Perdoe se estou sendo rígida. Mas eu preciso ser. Pelo menos com você eu preciso ter mais firmeza pra que você não me domine mais. Agora sou eu que domino você e pode ter certeza que as coisas vão ser melhores assim. Agora é hora de unir minha cautela com sua impulsividade, meu senso estratégico com sua vigília, para assim nos tornarmos uma dupla invencível. É uma negociação justa e é um pedido simples até. Está na hora de mudar e não há mais como voltar atrás. Sem arrependimentos. Agora é a hora!

Um beijo, gata!