quarta-feira, novembro 04, 2009

Sobre Concurso Público, riqueza e poder.


Na verdade, somei mais fracassos que vitórias em minhas lutas, mas isso não importa. Horrível seria ter ficado ao lado dos que venceram nessas batalhas.

Darcy Ribeiro


Ser ou não ser [concursado]? Eis a questão!

Para ter riqueza, reconhecimento e poder o sujeito se adéqua a qualquer realidade, cada um de acordo com sua meta. Neste caso, pode-se recorrer à Hollywood, à Rede Globo, a grandes cargos políticos, escândalos tenebrosos pra aparecer a todo custo ou ao meio mais vislumbrado da atualidade: o Concurso Público. Com êxito garantido na prova de seleção mais difícil da vida adulta pós-vestibular [por motivos que vão da sorte ao ajuste do sujeito às particularidades da CONCURSOLÂNDIA], riqueza é um fato certo em alguns casos; o reconhecimento e o poder vêm junto no pacote e no rótulo de concursado. Para algumas pessoas passar em um concurso pode significar estabilidade financeira, libertação dos grilhões do proletariado, a paz de espírito necessária para sustentar a saúde mental e evitar um Burn out, uma depressão no trabalho e etc e aí eu acho justo. Para outras pessoas pode significar fama, dinheiro a dar com pau sem fazer esforço algum, uma vez que o status de concursado foi adquirido e quanto a isso eu não vou me posicionar, pelo menos não neste trecho.

O que é certo é que 10 entre 10 seres humanos desejam passar em um Concurso Público [é uma estimativa exagerada?]. A massificação do concurso é uma coisa tão extraordinária que alguém que dissesse que não quer fazer concurso poderia ser executado em praça pública por blasfemar contra a globalização e o capitalismo. Este ser bizarro que não tem como projeto de vida passar em qualquer concurso que seja, pra se estabilizar, pra ter dinheiro pra bancar suas necessidades consumistas, pra ser considerado o ser mais inteligente da face da Terra por ter feito não sei quantos pontos e ter se classificado em primeiro lugar para não sei que cargo suuuuuuuuuper concorrido, oferecedor de pompa e regalias diversas; esse extra-terrestre está fadado à pobreza eterna [financeiramente falando] e ao exílio para a FRACASSOLÂNDIA. Pois bem, eu devo admitir que cheguei à conclusão linda e penosa [como tudo que é martírio nesse mundo] de que eu sou este ser. Eu remo contra a maré, eu tento [quase sangrando] não me submeter a tudo que é padrão social, não por birra, mas porque ainda me guio por minhas ideologias baratas e pouco acreditadas e por causa disso posso morrer pobre ou submissa a uma empresa privada; só porque não quero estudar pra concurso. [não agora e não pra esses]

Claro que eu tenho uma consciência dolorosa sobre o mundo que me cerca, claro que o monstro consumista que existe neste corpo e nesta alma se manifesta muitas vezes ao dia e promove uma vontade ardente de mandar essas ideologiazinhas pro inferno e me entregar à alienação do luxo e da estética, de encarnar uma personagem do Manoel Carlos, dessas que só comem salada, bebem muito e torram todo o dinheiro que nasce em um poço subterrâneo [só pode] em compras e em viagens internacionais. Sendo assim, se não for pela Megasena ou se eu não der um golpe num idoso milionário, só o concurso pode proporcionar este sonho glamuroso, confortável e alienado. Mas como sei que todas estas alternativas me são inviáveis no momento, prefiro fundamentar meus desejos nas minhas ideologias baratas, porém limpinhas. Eis o mistério da Fé e da contradição! Como acredito que tenho capacidade pra trabalhar e manter meus pequenos luxos, mesmo que meu dinheiro não nasça numa mangueira, como acredito que posso conhecer muitas coisas fora da Concursolândia e acredito acima de tudo em um conceito muito diferente sobre inteligência, prefiro meu mundo de pequenas lutas diárias. Não é que esteja fazendo uma apologia ao fim dos concursos, afinal, acredito na democracia, eu só defendo aqui o direito de viver na Fracassolândia em paz e com dignidade.

3 comentários:

Juliano Matos disse...

Gostei do seu blog, até q n tinha pensado sobre sua ótica..é bom ter novas visões

Guilherme Nathanli disse...

Gostei do seu blog [2]. O problema não é tanto a pobreza eterna (financeira). Claro que alguns concursos oferecem bons salários, mas procuro avaliar a qualidade de vida (sem estresse). Mesmo assim temos que ver se iremos trabalhar com o que gostamos. A Fracassolândia pode ser um mundo feliz.

Amanda disse...

ADOREI seu blog! e me identifiquei!
Quero viver na Fracassolândia. Nos encontramos lá =)