quarta-feira, setembro 04, 2013

Não é pra você!

Eu queria muito que você me amasse, não porque é você, mas porque eu trago essa necessidade quase infantil de ser amada por alguém. Eu desejo ser desejada também, porque, às vezes, tenho plena convicção de que posso ser a melhor amante, a melhor mulher, a mulher da vida de qualquer sujeito. E às vezes minhas crenças negativas sobre mim mesma, os outros e o mundo me fazem sucumbir ao desespero, mesmo que eu ainda consiga recuperar a sanidade e a lucidez a tempo. Às vezes eu só preciso lembrar que sou limitada ou castrada, como se diz em termos psicanalíticos, e que eu não estou só nisso. E eu preciso lembrar disso pra ter alguns segundos de alívio e satisfação. Eu acredito nas alternativas, nas outras possibilidades, eu só preciso estar limpa para enxergá-las. Eu só não me dou conta disso quando estou envenenada pelo pessimismo. Eu preciso é de tempo, pra me (re)conhecer neste amontoado de expectativas e de enganos que eu invento pra parecer forte, independente e determinada a me salvar sozinha, porque julgo não precisar de ninguém pra me resgatar desta torre quase inatingível que me isola dos sofrimentos do mundo. Talvez seja por isso que eu prefira meu cabelo curto, porque não quero bancar a Rapunzel aprisionada. Mas eu preciso admitir que eu tenho necessidade de ter alguém comigo. Pra dividir as contas, pra me queixar do dia (in)tenso de trabalho, pra enlouquecer de ciúmes, pra tomar sorvete de tarde quando estiver bem quente, pra pensar em casamento e me frustrar por não ser correspondida neste projeto ou pra não pensar em casamento agora, pra compartilhar afeto e estranhezas e insegurança. Eu não sei se é exatamente de você que eu preciso. Mas se for pra fazer tudo isso com alguém tão bonito e perdido e confuso e doce como você é, então eu acho que posso pensar na possibilidade de nós dois. Na verdade não posso, porque tenho que sustentar a farsa da mulher realista e segura que sabe exatamente o que esperar de um homem. Poxa, eu sou ansiosa e obsessiva. A quem eu quero enganar? Fico com remorso de induzir meus amigos a pensarem que querem ser bem resolvidos como eu. Eu sou uma fraude e é triste reconhecer.Eu queria muito que você estivesse mesmo louco por mim. Que estivesse escrevendo e reescrevendo mensagens de texto que nunca serão enviadas porque você não quer parecer vulnerável, ou leviano. Eu disse que não ia romantizar isso. E na verdade nunca vou admitir que romantizei. Mas eu queria tudo isso por pura vaidade. Narcisismo. Nada mais. E eu sei que esse tipo de bem querer é perigoso. Tudo bem, estou fazendo grande esforço pra parecer realista e consigo em grande parte do dia. Você ainda não tem história suficiente pra ser alguém tão importante a ponto de merecer uma carta. É que essa carta não é pra você. É pra mim. Pra eu organizar a confusão do meu juízo e continuar atuando como esta tal  mulher bem resolvida e compreensiva. Eu sei. Não sou tão boazinha assim. Sou egoísta e vaidosa. Mas isso é pra você entender que não é preciso me poupar, que eu posso perfeitamente dar conta das minhas frustrações. Não é você quem decide se suas inseguranças vão me fazer mal, porque tenho autonomia pra enfrentar o que você é. Então, vá em frente, me frustre. Eu agüento. E, se por acaso, você tiver disposição pra enfrentar as insatisfações de uma histérica, até o limite da sanidade que sustenta uma relação saudável, estou aqui! É isso!

sexta-feira, outubro 05, 2012

Se beber, não paquere: outras possibilidades para sair do anonimato afetivo

CAPÍTULO 1: SAÍDA COM OS AMIGOS PRA CURTIR A “NIGTH”


Imagem: Pulp Fiction: Tarantino, 1994



      Seduzir alguém é tarefa desgastante pra quem não tem habilidades mínimas. “Ir à caça” não é mera força de expressão ao se tratar deste assunto. Você tem que estar preparado física e intelectualmente. Como se diz em termos biológicos, tem que estar preparado pra fugir ou lutar. Uma vez preparado, é preciso coragem, energia e improviso para lidar com situações não planejadas. É preciso também estar pronto para as eventuais pancadas. Há que se ter robustez. Sair com os amigos para a “nigth” pode significar enfrentar uma selva quando se pensa em paquera. Enfrentar a concorrência (que pode ser, inclusive, autoboicotes) pode provocar feridas de guerra. 
      No capitulo de hoje veremos como é a arte de não seduzir alguém em ambientes públicos como boates, barzinhos (barezinhos?) e similares. E a dica de ouro é a inspiração para a criação desta série: se beber, não paquere.

      Vamos às possibilidades:

    Nessa situação específica existe um grande problema que precisa ser resolvido para que os outros, encadeados a este, possam se solucionar: aquela falta de vontade, disposição e movimento quando se fala em sair pra balada. É preciso ter um mínimo de disposição e autoestima pra querer expor a própria figura na rua e isso tem que ser trabalhado horas, dias e até meses antes do grande evento. Uma vez resolvido este problema que é o maior impasse, à priori, é hora de pensar em outros entraves relativos ao início, desenvolvimento e conclusão da noite.

A CHEGADA

     A pior atitude nessas situações é não olhar à sua volta, não avaliar as alternativas. Geralmente quem não tem um repertório de sucessos na paquera ou no namoro desenvolve mecanismos de defesa poderosos que até cumprem seu papel, mas não dão oportunidade de desenvolver habilidades que podem levar ao sucesso da conquista ou à tolerância à frustração. Levar nãos (contanto que não seja sempre) também pode nos ajudar a suportar os fracassos e a saber conviver com eles sem esmorecer. Portanto, não olhar em volta faz com que oportunidades sejam perdidas e ninguém vai saber que é porque você é míope.

O DESENVOLVIMENTO

     Depois de algum tempo em que você já foi vista e avaliada e que também já avaliou muita coisa deveria ser comum que alguém “chegasse junto”. Infelizmente, na atualidade, com o advento da independência feminina, não é bem o que acontece, por isso todas as falas ensaiadas sobre comentários inteligentes e engraçados a pretensas investidas não vão ser colocadas em prática, a menos que você tome a iniciativa. Mais uma vez: há que se ser ter coragem. É preciso ter inteligência pra improvisar. No entanto, os desprovidos de senso de sedução jamais conseguiriam tomar a iniciativa e ir à luta, mesmo que já tivessem tomado quase um tonel de cerveja. Nesse momento, o medo do não vem travestido de autoconfiança e orgulho. Logo, esperar pretensas investidas pra que você possa colocar o texto ensaiado com tanta dedicação em prática nunca dará certo. E é sério.

FIM DE NOITE: 

     Aqui as possibilidades se tornam escassas e não há muito o que fazer, até mesmo porque os sinais de cansaço, decepção e derrota já estão estampados na face torta e borrada devido à ingestão de álcool durante horas. Neste instante, numa tentativa desesperada e tardia de correr atrás do prejuízo, aquele charminho ao segurar a garrafa de cerveja com todo aquele ar de quem sabe o que quer já não cola mais. Poderia até dar certo se a pessoa ainda mantivesse suas faculdades mentais em ordem, já que um gesto fálico denota sempre poder, mas não é o caso. O que aconteceria, de fato, é que, ao cerrar os olhos e jogar o cabelo pro lado, as probabilidades de cambalear, tropeçar e até sair pela tangente seriam altíssimas e isso tornaria a pessoa menos dona do mundo-sedutora-determinada e a faria parecer mais uma alcoólatra-carente-míope e pouco criteriosa em fim de festa. Portanto, não tente bancar a sedutora quando não conseguir mais ter controle sobre a própria consciência ou quando já estiver afetada pela exagerada ingestão de álcool.

Lições do capítulo de hoje: mantenha a autoestima em dia, mas isso não significa chegar à conclusão de que ninguém está à sua altura. Seja seletiva, inclusive com os nãos que você dá. Procure manter o bom senso e a coerência – o que implica em segurar a onda em ambientes públicos, principalmente bares e boates que estimulam a bebedeira. Por fim, não dê ouvidos a receitas de como seduzir ou não seduzir alguém. Quem avisa amigo é.

Trilha sonora sugerida: A FÓRMULA DO AMOR (LEO JAIME)

Trecho para citação: “Eu tenho a pose exata pra me fotografar. Aprendi nos livros pr'um dia usar. Um certo ar cruel de quem sabe o que quer. Tenho tudo ensaiado pra te conquistar. Eu tenho um bom papo e sei até dançar. Não posso compreender. Não faz nenhum efeito...”

Imagem: Pulp Fiction: Tarantino, 1994

quarta-feira, outubro 03, 2012

Se beber, não paquere: outras possibilidades para sair do anonimato afetivo.

      Existem pessoas que não são as mais indicadas pra ensinar sobre o amor ou sobre a arte de seduzir alguém, por pura falta de instrumental e repertório de conhecimento ou por preguiça de ir à luta. Porém ensinar como não se seduz também pode servir como ferramenta útil pra quem ainda tem fé em experimentar as emoções da paquera, da conquista, do namoro e dependendo das atitudes tomadas, do provável fim ou  - quem sabe, com sorte, de um enlace matrimonial - e aí sim experimentar o provável fim (ou não!).
      Logo, saber o que não se deve fazer também pode levar a estratégias mais positivas e mais funcionais. Geralmente esses mestres na arte de não seduzir imaginam demais como tudo deveria ser e tudo isso é obviamente induzido por um arsenal de seriados, filmes e trilhas sonoras que ajudam a criar o melhor roteiro existente na imaginação, mas que não acontece onde realmente importa: na vida real. Portanto, isto é mais um serviço de utilidade pública prestado por este espaço de divagações pra que os não sedutores anônimos (e todo problema reside no anonimato) possam refletir sobre suas posturas e tenham a oportunidade de promover pequenas mudanças na vida afetiva.

Vem aí a série: Se beber, não paquere: outras possibilidades para sair do anonimato afetivo.
Aguardem cenas do próximo capítulo.

terça-feira, julho 03, 2012

Última carta pra você!


Eu voltei porque eu precisava registrar as últimas palavras não ditas. Eu voltei porque preciso te dizer o que você precisa saber pra se sentir absolvido de uma culpa que, definitivamente, não é sua. Eu queria te dizer que agora não há mais ressentimentos, nem aquela dor no peito por não ter concretizado um grande amor. Eu queria te dizer que consegui elaborar o luto que me acompanhou por esses anos. Eu aceitei a nossa condição e estou em paz com isso.
Você continua sendo o homem mais bonito, gentil e inteligente que eu já conheci. Eu ainda sinto esse amor maior que eu e que a minha força de vontade. Eu ainda admiro tudo o que você é. O meu amor é o mesmo, mas eu aceitei a nossa condição. O que eu sinto por você é da ordem do platônico, do perfeito, do ideal. Esse amor que eu sinto jamais poderia ser maculado pelas experiências cotidianas, pelo desgaste da convivência e pelos defeitos humanos. É assim que nós existimos um pro outro. É assim que você precisa se manter existindo pra mim.
 Eu não quero ser repetitiva. Nem compulsiva. Nem obsessiva. Eu quero mesmo só dizer adeus, porque agora tenho certeza de que fechei um ciclo. Eu só escrevo essas últimas palavras não ditas porque ainda restou muita coisa aqui dentro pra guardar sozinha. É só uma medida preventiva, pra evitar esse engasgo que vem quando queremos dividir algo grande e não podemos.
Meu amor, eu sempre irei me lembrar de você, mas agora, pra mim, você é uma realidade distinta. Você é a referência de desejo que existe só pra me fazer recordar que o amor que quero viver é uma realidade concreta, mesmo que não esteja inserida na minha. Você será meu parâmetro de crenças saudáveis pra que eu não morra no desespero e na falta de fé. Pra que eu continue acreditando no homem da minha vida. Você é quem vai me lembrar que este homem chegará, ainda que minha ansiedade possa botar tudo a perder, ainda que minha lerdeza possa botar tudo a perder, ainda que minha teimosia possa botar tudo a perder.
Você não chegou a me amar porque não me conheceu. Eu também não te conheci bem. Mas esse amor fez e faz de mim alguém melhor, mais otimista. Esse amor também promoveu um amor próprio que eu desconhecia. Amando você eu passei a me amar mais e isso foi o maior bem que você fez a mim. 

domingo, abril 08, 2012

E quando não houver mais Esperança?

"Se fiquei esperando meu amor passar, já me basta que então eu não sabia amar".
                                                                                                            Legião Urbana


Esperança sempre nutriu a fantasia romântica de que encontraria o Amor da Vida naturalmente, sem grandes esforços e com todos os requintes que uma linda história de encontro deve ter pra ser referência: olhares de amparo e de certeza de um bem querer eterno à primeira vista com o som de violinos ao fundo.

Durante a adolescência esperou pacientemente que o homem dos seus sonhos chegasse pra resgatá-la daquela solidão que lhe rasgava o peito. Esperança esperava porque sabia que não merecia menos do que seus sonhos de amor determinavam. Afinal, se nos filmes acontecia assim, não era demais exigir uma trilha sonora e um sujeito que tornassem sua existência mais especial.

E esperança esperou paciente até o seu limite. Quando a paciência se esgotou deixou de esperar e passou a desesperar. Perguntava-se, amarga e pessimista, por que a vida era tão dura, por que logo ela, tão inteligente, tão bonita, um excelente partido, não tinha a sorte de encontrar o Amor, apesar de esperar por ele com a devoção de uma religiosa?

Sem mais o que fazer, continuou esperando, quase sempre sem cansar, até que Pedro apareceu. Pedro viu em Esperança as qualidades que nenhum homem percebera. Pedro teve coragem de declarar sua admiração sem pudores, porque só ele reconhecia que uma mulher como Esperança não merecia desperdiçar sua existência num canto esquecido do mundo. Uma mulher como Esperança merecia ser amada. Pedro, então ofereceu seu amor, mas Esperança preferiu esperar mais um pouco. E se alguém melhor que Pedro aparecesse? Ela merecia um amor de cinema, afinal. Decidiu que se aos 30 anos o homem dos seus sonhos não aparecesse ela aceitaria a oferta de Pedro.

O tempo não esperou muito. Ao contrário de Esperança, é mais prático. Logo, aos 30 anos, sem sucesso em relação aos seus objetivos amorosos, Esperança estabeleceu mais um prazo: aos 35 anos, se o Amor da vida não surgisse, ela construiria com Pedro uma vida amena, sem arroubos. Pedro, que também era paciente, esperava por Esperança enquanto Esperança esperava o desconhecido. Nesse percurso de tantas esperas o tempo, mais uma vez, foi implacável e não esperou. Aos 35 anos, Esperança estabeleceu mais uma moratória. Se aos 40, seu amor de cinema não surgisse pra que finalmente ela pudesse viver seu roteiro hollywoodiano, ela se contentaria com um filme mudo, em preto e branco com Pedro, que perseverante, não perdia as esperanças, com o perdão do trocadilho.

Com o passar dos anos, Esperança sentiu que sua vida era uma página em branco e percebeu que de tanto esperar estagnou. Olhava pra dentro de si e só vislumbrava um grande abismo. Amaldiçoava sua sorte, ressentia-se com a falta de sensibilidade dos homens que não notavam seus atributos e lembrou-se de Pedro. Este homem nunca recuou um passo e manteve-se sempre no mesmo lugar, à sua espera. Começou a pensar se ele também sentia esse abismo dentro da alma e questionou se não era ele o protagonista de sua história de Amor. Decidida, Esperança não esperou mais. Foi ao encontro de Pedro pra comunicar que, enfim, ela entendeu. Esperança entendeu que esperar pelo Amor não é a melhor estratégia, que enquanto esperava ela perdeu todos os capítulos de sua história de vida. Entendeu que para concretizar sonhos é preciso ter iniciativa e autonomia e que um sonho não precisa ser necessariamente enfeitado a ponto de tanger a impossibilidade. Esperança entendeu e queria compartilhar isso com aquele que poderia ser o Amor de sua Vida.

Justo quando Esperança deixou de esperar e resolveu sair do lugar de conforto em que se encontrava uma tragédia abateu-se sobre a nova vida que se desenhava. Talvez por também esperar e não conseguir sair do lugar, Pedro não resistiu. Pedro morreu nutrindo o desejo de fazer Esperança feliz. Esperança mais uma vez mergulhou no abismo de sua alma, já que este lugar foi o único lar que construiu durante sua longa espera. Pedro morreu esperando. Esperança estaria fadada a esperar até morrer. Rindo da própria desgraça se fez um último questionamento: seria cômico ou trágico acreditar no ditado que diz que “Esperança é a última que morre”?

quarta-feira, fevereiro 01, 2012

FALA QUE EU TE CURTO!

"Sofremos com todas as forças que nos obrigam a nos exprimir quando não temos grande coisa a dizer" (Gilles Deleuze)

“Eu prefiro ser essa metamorfose ambulante do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo” (Raul Seixas)


Em épocas como a de agora, em que a virtualidade ganha mais espaços do que a realidade na vida, é inevitável se questionar e, por vezes, se incomodar e se enfadar com essa necessidade de se exprimir o tempo todo. Deleuze e Raul já falavam disso há nem sei quanto tempo, quando a tecnologia ainda nem era mais uma força pressionando a expressão de qualquer opinião sobre qualquer assunto. Em tempos de twitter e facebook, se fala indiscriminadamente de qualquer coisa. As informações passam por nós de forma tão frenética que quando nos damos conta estamos lá, emitindo opiniões, fundamentadas ou não, compartilhando, retuitando, curtindo, ofendendo, criticando ou tão somente respondendo obedientes às perguntas “No que você está pensando agora?; O que está acontecendo?”. 

Nem sempre o que pensamos ou o que acontece em nossa intimidade precisa ser exposto pra qualquer pessoa. Nem sempre o que pensamos ou o que acontece em nossas vidas é realmente relevante. Essa exposição a que nos alienamos é perigosa e invasiva. Vez ou outra nos encontramos, satisfeitos ou insatisfeitos, via redes sociais, proclamando nossas angústias, felicidades, desejos, conhecimentos sobre cultura à espera de qualquer manifestação de outras pessoas que amparem os mesmos sentimentos pra nos sentirmos aceitos. Eu entendo a necessidade de pertença. É um recurso social de sobrevivência. Também vislumbro as redes sociais como instrumentos de cidadania, de propagação de manifestações genuínas de posturas políticas que, na maioria das vezes, promove mudanças significativas, ainda que não grandiosas. Também compreendo que a vida se movimenta pra mudanças que não devem ser negligenciadas, como as tecnologias atuais. Até porque, mais uma vez, o sentimento de pertença existe pra que não deixemos de ser grupo. 

O alcance das informações difundidas nas redes sociais não é o problema. O problema reside na forma como lidamos com as informações que chegam até nós. O problema é a falta de filtro. Deve existir algo que se queira guardar pra si mesmo ou pra intimidade partilhada com as pessoas mais queridas e mais próximas. O problema é que estamos sofrendo desse mal que não nos permite mais ser seletivos. Não somos seletivos quanto a quem queremos ao nosso lado, seja como amante ou como amigo, nem com as informações que importam, nem com a emissão de nossas visões de mundo. Nessa era pós-moderna é assim: tudo junto e misturado. Quem não tem peneira deixa passar tudo e se perde ao desconsiderar o que é essencial. Hoje em dia, quem tem um smartphone não perde mais nada da vida, exceto a vida real, a vida em volta, a vida do amigo que está logo ali, na cadeira ao lado, no mesmo restaurante que está sendo marcado nos aplicativos do facebook.


Este texto surgiu da minha insatisfação sobre o mau uso de ferramentas que podem servir pra coisas muito mais nobres, insatisfação que estava prestes a ser publicada nas minhas redes sociais. Essa é a grande ironia: criticar coisas que nós mesmos fazemos. Porque o facebook e twitter estão cheios de publicações recheadas de posturas políticas do tipo “Eita, Brasilzão sem jeito!”, “Esses políticos são o câncer do país”; “Brasileiro precisa aprender a votar direito, seja nas urnas, seja pra quem deve sair do BBB”, “Odeio todo tipo de reality show, mas, por acaso, soube daquele estupro. Isso é um absurdo. Aonde vamos parar? Manda matar o Bial”; “A Luiza voltou do Canadá, tá famosa e eu não vou me posicionar sobre o assunto. Só digo que acho tudo isso uma besteira”. Olhar pras nossas próprias contradições é um ato corajoso e de sanidade. Brasileiros somos nós, usuários de twitter e facebook, então, não faz sentido criticar se nos colocamos como meros expectadores. Nesse caso, eu também não sei votar. Também acho que a repercussão sobre a Luiza no Canadá e sobre o suposto estupro no BBB são duas grandes bobagens, mas expor isso na minha timeline já é falar sobre o assunto e, por conseqüência, participar da propagação da besteira. 

Ter crítica é desconfiar com moderação. É o meio do caminho entre opinar sem saber do que se trata e se insatisfazer sem saber a procedência. É tentar ser, no mínimo, coerente. É checar a informação pra se saber se é necessário mesmo opinar. É tentar questionar posturas que lhe fazem mal, com as quais não se concorda mais. É mudar de idéia, mas é, acima de tudo, agir conforme o que se pensa e pra isso é preciso problematizar. Problematizar inclusive a sua vida, as suas posturas, as suas visões de mundo, porque se a incoerência publicada de alguém incomoda mais do que as suas próprias incoerências é hora de verificar se as vias de informação que se usa ainda fazem sentido. O que quero dizer é que sendo eu responsável por minhas ideias e exposições delas, sou também responsável pela ferramenta que utilizo, portanto, antes de me ressentir com alguma ideia publicada, por que não ignorar? Afinal de contas a liberdade de expressão ainda é um direito, mas se a insatisfação é gigantesca quanto ao que está sendo exposto chega a hora de utilizar outros serviços oferecidos pelas mesmas ferramentas. É aí que se faz necessário o uso, com responsabilidade e sem culpa, dos botões: bloquear e excluir amizade. Como se vê, tudo depende mesmo de um posicionamento pessoal, desde que seja coerente. (Des)curta quem (des)curtir.

segunda-feira, dezembro 26, 2011

Senhor Jesus

Eu sei que estou um pouco atrasada, mas neste Natal, queria deixar o registro dos meus votos de um Feliz Aniversário. Nem vou pedir nada, só queria mesmo agradecer toda a ajuda, todo o suporte que tens me dado. Agradeço pelo meu trabalho, pelos amigos que me acompanham, pela família que amo, pelas mudanças que tenho vivenciado, pela minha saúde, que mesmo capenga, ainda tem sustentado meus projetos diários. Agradeço pelo Amor que cultivo em mim, pelos outros, por mim mesma e por Ti. Agradeço em nome da fé que nunca me deixou cair, mesmo nos momentos mais difíceis e desesperadores. Essa fé que me fez ser quem sou e que tem feito eu me orgulhar (muito) disso. Essa fé que mantém meus projetos em perspectiva e que me salva dos inúmeros transtornos mentais que me rodeiam, mas que nunca chegaram até mim. Por causa da fé que tenho em Ti.

Eu disse que nem queria pedir nada, mas eu vou pedir. Perdão! Pelas vezes que reclamei do meu trabalho, dos meus amigos, da minha família, das mudanças que tenho vivenciado e da minha saúde capenga. Pelas vezes que duvidei de mim e da minha fé na vida e nas pessoas. Pelas vezes em que eu esqueci de agradecer pelas minhas conquistas. Principalmente, por ter, durante anos, esquecido que esta data se refere a seu aniversário e, portanto, não sou eu que tenho que ganhar presente. E sendo seu aniversário, peço perdão por ter alimentado uma nostalgia e melancolia despropositadas nesta data e não a alegria de celebrar um evento de tamanha grandeza. Peço perdão pela preocupação em reunir a família, em perdoar, em ter compaixão, apenas nesse dia. Prometo levar este momento de consciência pro resto do ano e pro resto da minha vida. Eu, que já fiz cartas pra tanta gente e sob tantas motivações, desta vez, escrevo uma carta pra registrar meu Amor. Pra que eu nunca mais esqueça!