domingo, abril 08, 2012

E quando não houver mais Esperança?

"Se fiquei esperando meu amor passar, já me basta que então eu não sabia amar".
                                                                                                            Legião Urbana


Esperança sempre nutriu a fantasia romântica de que encontraria o Amor da Vida naturalmente, sem grandes esforços e com todos os requintes que uma linda história de encontro deve ter pra ser referência: olhares de amparo e de certeza de um bem querer eterno à primeira vista com o som de violinos ao fundo.

Durante a adolescência esperou pacientemente que o homem dos seus sonhos chegasse pra resgatá-la daquela solidão que lhe rasgava o peito. Esperança esperava porque sabia que não merecia menos do que seus sonhos de amor determinavam. Afinal, se nos filmes acontecia assim, não era demais exigir uma trilha sonora e um sujeito que tornassem sua existência mais especial.

E esperança esperou paciente até o seu limite. Quando a paciência se esgotou deixou de esperar e passou a desesperar. Perguntava-se, amarga e pessimista, por que a vida era tão dura, por que logo ela, tão inteligente, tão bonita, um excelente partido, não tinha a sorte de encontrar o Amor, apesar de esperar por ele com a devoção de uma religiosa?

Sem mais o que fazer, continuou esperando, quase sempre sem cansar, até que Pedro apareceu. Pedro viu em Esperança as qualidades que nenhum homem percebera. Pedro teve coragem de declarar sua admiração sem pudores, porque só ele reconhecia que uma mulher como Esperança não merecia desperdiçar sua existência num canto esquecido do mundo. Uma mulher como Esperança merecia ser amada. Pedro, então ofereceu seu amor, mas Esperança preferiu esperar mais um pouco. E se alguém melhor que Pedro aparecesse? Ela merecia um amor de cinema, afinal. Decidiu que se aos 30 anos o homem dos seus sonhos não aparecesse ela aceitaria a oferta de Pedro.

O tempo não esperou muito. Ao contrário de Esperança, é mais prático. Logo, aos 30 anos, sem sucesso em relação aos seus objetivos amorosos, Esperança estabeleceu mais um prazo: aos 35 anos, se o Amor da vida não surgisse, ela construiria com Pedro uma vida amena, sem arroubos. Pedro, que também era paciente, esperava por Esperança enquanto Esperança esperava o desconhecido. Nesse percurso de tantas esperas o tempo, mais uma vez, foi implacável e não esperou. Aos 35 anos, Esperança estabeleceu mais uma moratória. Se aos 40, seu amor de cinema não surgisse pra que finalmente ela pudesse viver seu roteiro hollywoodiano, ela se contentaria com um filme mudo, em preto e branco com Pedro, que perseverante, não perdia as esperanças, com o perdão do trocadilho.

Com o passar dos anos, Esperança sentiu que sua vida era uma página em branco e percebeu que de tanto esperar estagnou. Olhava pra dentro de si e só vislumbrava um grande abismo. Amaldiçoava sua sorte, ressentia-se com a falta de sensibilidade dos homens que não notavam seus atributos e lembrou-se de Pedro. Este homem nunca recuou um passo e manteve-se sempre no mesmo lugar, à sua espera. Começou a pensar se ele também sentia esse abismo dentro da alma e questionou se não era ele o protagonista de sua história de Amor. Decidida, Esperança não esperou mais. Foi ao encontro de Pedro pra comunicar que, enfim, ela entendeu. Esperança entendeu que esperar pelo Amor não é a melhor estratégia, que enquanto esperava ela perdeu todos os capítulos de sua história de vida. Entendeu que para concretizar sonhos é preciso ter iniciativa e autonomia e que um sonho não precisa ser necessariamente enfeitado a ponto de tanger a impossibilidade. Esperança entendeu e queria compartilhar isso com aquele que poderia ser o Amor de sua Vida.

Justo quando Esperança deixou de esperar e resolveu sair do lugar de conforto em que se encontrava uma tragédia abateu-se sobre a nova vida que se desenhava. Talvez por também esperar e não conseguir sair do lugar, Pedro não resistiu. Pedro morreu nutrindo o desejo de fazer Esperança feliz. Esperança mais uma vez mergulhou no abismo de sua alma, já que este lugar foi o único lar que construiu durante sua longa espera. Pedro morreu esperando. Esperança estaria fadada a esperar até morrer. Rindo da própria desgraça se fez um último questionamento: seria cômico ou trágico acreditar no ditado que diz que “Esperança é a última que morre”?

Um comentário:

Raimundo Neto disse...

Oi! Meu nome é Esperança também.