quarta-feira, fevereiro 24, 2010

Sobre culpa, autopurgação e maldições amorosas


Certa vez, na circunstância dramática de um término de namoro, um ex enfurecido e exausto me disse: "Sabe o que vai acontecer? O meu barco vai continuar navegando enquanto o seu afundar!" Naquela hora eu só achei que era uma ameaça meio brega, meio ressentida, mas essas palavrinhas me atormentam há muito tempo e é inevitável pensar nelas quando tudo dá errado nos meus relacionamentos. A referência ao Titanic foi uma maldição, uma profecia ou só uma maneira zangada e metafórica de dizer que minhas crenças rígidas e intolerância ainda renderiam sérios problemas de socialização com o sexo oposto?

Sem respostas para as minhas dúvidas, o certo é que o barco dele já deve estar chegando na Jamaica, enquanto o meu está fadado a um naufrágio sem precedentes e eu nem sei nadar. Trágico!

Será que quando os ressentimentos de nossos amores passados persistem as maldições e desejos de vingança contra sua pessoa ganham força descomunal? Como um combo em um jogo de video game, as energias negativas de todos eles se acumulam pra perseguí-la por toda a vida? Será esse o motivo de eu estar condenada a viver 50 anos em inferno astral, trancada num calabouço afetivo, como os personagens da Caverna do Dragão, privados por um Vingador de sua liberdade? Ou é tudo responsabilidade minha?

Talvez eu descubra em terapia e talvez confirme que enquanto minha "canoa furada" inunda minhas possibilidades, a culpa me atormentará até o fim, porque é esse vermezinho que me constitui e toma conta da minha alma cheia de pequenos pecados. Culpa por achar que já magoei alguém e mereço arder no fogo do inferno por causa disso. Culpa por não ter dado as chances necessárias pra transformar o outro numa pessoa desejável. Culpa por ser teimosa e burra. E se eu pensar na culpa que tenho até por existir, concluo que a responsabilidade é mesmo toda minha. À bem da verdade, culpa é uma coisinha que as mães, primeiramente e, depois os nossos homens, sabem incutir perfeitamente em nossas cabeças neuróticas.

Mas nem tudo está perdido, pois enquanto houver um copo descartável (pra livrar-nos da água excedente do nosso navio naufragado) e expectativas, haverá luta! E se nada der certo, ainda pode-se aprender a nadar. Afinal, de uma forma ou de outra, todos conseguimos reunir recursos pra sobrevivermos aos nossos tsunamis pessoais.

4 comentários:

Anônimo disse...

A praga dele foi forte né?

Anônimo disse...

Vou ter que aprender a nadar também, mas ainda bem há quem me jogue umas bóias de vez em quando. Bjo linda!

Guilherme Nathanli disse...

Não se preocupe, tem mais gente no Titanic... hehe

Raimundo Neto disse...

Somos buscas usando salva-vidas!

É como eu digo!