terça-feira, outubro 18, 2011

Outra carta pra você!


Oi! Tudo bem? Quanto tempo! Eu sei, eu sei. Não precisa me lembrar. Graças a Deus, ou não, conheço e reconheço minhas escolhas e as péssimas consequências vindas delas. Talvez porque sejam mais não-escolhas. Pois é, minha inércia continua a mesma, mas eu percebo uma mudança se aproximando. Enfim: essa minha mania de te envolver no que não te diz respeito também não muda. Eu falei mesmo, da última vez, depois daquele último sonho que riscaria você da minha vida onírica e real. Deu certo por um tempo, mas como em todo vício, doença ou disfuncionalidade recaídas são previsíveis e eu não tive outra escolha que não fosse aceitar você de volta. De volta? Você sabe o que quero dizer. Falta de inteligência não é um mal que eu possa atribuir a você. Esta crise veio mais forte, talvez porque as mudanças que pressinto estejam causando grandes revoluções dentro de mim. Em que parte isso se torna comum a você? Não sei! O fato é que tenho sonhado contigo quase todo dia. Dias seguidos, às vezes. Fui eu que inventei você. Deveria caber a mim te desinventar. Mas é difícil pra todo criador se desfazer de sua criação. Agora eu não sei mais o que tentar. Qual a melhor prescrição pra esquecer alguém que não existe? Pior: qual o melhor curativo pra fechar a ferida narcísica de não existir pra alguém? Eu sei que a culpa é minha. Se você não reconhece a minha existência é porque eu faço questão de ser invisível aos seus olhos. Eu criei um roteiro muito complexo e um problema definitivamente sem solução: como termina a história de amor de uma pessoa invisível por outra pessoa inventada? Um dia me virá a coragem e um de nós dois se materializará. Alguém precisa existir em um plano concreto, afinal. Um dia eu me tornarei visível: resultado das minhas revoluções pessoais. Um dia você deixará de existir como o homem dos meus desejos de amor: resultado de um luto bem elaborado. Um dia nós entraremos em consenso e quem sabe aí eu ache a solução pra esse problema. Pra eu seguir em frente. Pra você seguir em frente sem precisar arrastar correntes como um fantasma em minha vida. Você é muito bonito pra viver só na minha cabeça. E eu gosto tanto de você que meu peito chega a doer de raiva e revolta. Mas não importa. Nada disso importa agora. No dia em que a coragem vier eu reúno todas as cartas, as palavras não-ditas e esfrego na sua cara. No dia em que a coragem vier eu reúno todas as cartas, as palavras não ditas e rio da minha cara por ser tão infantil e covarde. Aí eu perceberei que talvez eu nem precise fazer isso. Porque como em todo vício, doença ou disfuncionalidade recaídas são previsíveis, mas controláveis e com sorte até extintas. E aí eu não terei outra escolha que não seja partir pra próxima história.
Até a próxima, meu bem.

Quem inventou você fui eu, porém, eu tenho que desinventar: pro bem [...] Voltei pra te ver, mas sem te inventar. Ressaber se vai passar.
Gram

Um comentário:

Anônimo disse...

Demais esse!