quinta-feira, março 24, 2011

SOBRE AMIGOS E AMIGOS. MAIS UMA VEZ.


Amigo é coisa pra se guardar do lado esquerdo do peito: já diz a canção. Roberto Carlos canta a meta de ter um milhão de amigos e bem mais forte poder cantar antes mesmo do Orkut fazer a proposta. Amizade é um bem precioso, muitas vezes desvalorizado e isso já é assunto repetido por aqui. O que há de novo sobre o tema é o fato de que talvez exista uma explicação coerente, mas não completa sobre vínculos afetivos como a amizade e sobre porque ela fica em segundo plano quando encontramos o “amor da vida inteira”, “a cara metade”, “a banda da laranja”. Um artigo*afirma que os primeiros laços de amizade surgiram primitivamente e por interesse! Os macacos, nossos queridos ancestrais, por precisarem de auxilio nas lutas contra rivais e cuidar da prole começaram a desenvolver a linda arte de se vincular aos seus semelhantes a partir da troca de favores. Em resumo: as primeiras amizades se constituíram pra se ter amparo, auxílio nos trabalhos individuais e coletivos. A amizade, desde que o mundo é mundo, o homem é homem e macaco é macaco é um recurso de suporte, um instrumento vital para a sobrevivência. Mas veio depois da necessidade de procriar. Instintivamente precisamos nos vincular aos outros, estabelecer laços de amizade, coisa que é mais forte do que nossa vontade de estarmos sós. Mas também precisamos colocar o mundo em movimento a partir da procriação. Conclusão (e isso é uma consideração pessoal sem qualquer respaldo científico): ter amigos é bom e necessário, mas o mundo precisa de gente pra habitá-lo e de almas gêmeas para se unirem em prol deste intento. Tudo bem! Explica, mas não justifica. No fim das contas, se independentemente da quantidade e da qualidade de nossas amizades damos preferências aos nossos namoros e casos, pra quê reunimos outras pessoas que também dão suporte às nossas necessidades afetivas e sustentam nossas faltas? Segundo o tal artigo é porque nos interessa, porque produzimos substâncias que nos aproximam dos outros e nos aproximamos dos outros para obtermos ajuda e companhia. Ou seja: nós, seres sociais, precisamos de uma rede de apoio ampla (de pelo menos 150 amigos segundo a fonte consultada). Bem mais do que o “amor da vida inteira”, “a cara metade”, “a banda da laranja” e bem menos do que as redes sociais prometem na internet. Só que ninguém lembra disso quando está namorando ou quando faz uma conta no facebook, só pra espantar a solidão. E parece que a questão gira sempre em torno do medo da solidão. Em todo caso, a medida pra driblar o desespero e a falta de consideração, permanente ou temporária, por nossos queridos é sempre o meio-termo. É usufruir com moderação. Pra isso, é necessário tomar consciência de que precisamos de muitas coisas e de muitas pessoas pra sermos felizes, um pouquinho de cada vez e em situações diversas. Que o fato de precisarmos de muitas pessoas não significa que suportamos a convivência com todas ao mesmo tempo. Por outro lado, não é necessário preterir ninguém. O lugar de importância de nossos amores se delineia nas contingências, no compartilhamento de histórias de vida, nos espaços destinados a situações específicas e distintas.  Quando se entende que uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa e que às vezes tudo se mistura e se dilui, os (res)sentimentos também se (res)significam. E isso tudo é muito lindo e flexível, mas rende uma dor de cabeça danada até chegar a essa boniteza toda. Então, se é assim, façamos coro para a campanha: “NÃO ESQUEÇA QUEM LHE ACOMPANHA NA VIDA: MAIS VALE UM OMBRO AMIGO QUE UMA DOR DE COTOVELO” 
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*Fonte: O que nos tornou amigos?: Revista Super Interessante, Fev/11. Por Camila Costa e Bruno Garattoni
Referências de músicas citadas: Eu quero apenas (Erasmo Carlos/Roberto Carlos); Coração da América (Milton Nascimento)

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