Eu queria muito que você me
amasse, não porque é você, mas porque eu trago essa necessidade quase infantil de
ser amada por alguém. Eu desejo ser desejada também, porque, às vezes, tenho
plena convicção de que posso ser a melhor amante, a melhor mulher, a mulher da
vida de qualquer sujeito. E às vezes minhas crenças negativas sobre mim mesma,
os outros e o mundo me fazem sucumbir ao desespero, mesmo que eu ainda consiga
recuperar a sanidade e a lucidez a tempo. Às vezes eu só preciso lembrar que
sou limitada ou castrada, como se diz em termos psicanalíticos, e que eu não
estou só nisso. E eu preciso lembrar disso pra ter alguns segundos de alívio e
satisfação. Eu acredito nas alternativas, nas outras possibilidades, eu só
preciso estar limpa para enxergá-las. Eu só não me dou conta disso quando estou
envenenada pelo pessimismo. Eu preciso é de tempo, pra me (re)conhecer neste
amontoado de expectativas e de enganos que eu invento pra parecer forte,
independente e determinada a me salvar sozinha, porque julgo não precisar de
ninguém pra me resgatar desta torre quase inatingível que me isola dos
sofrimentos do mundo. Talvez seja por isso que eu prefira meu cabelo curto,
porque não quero bancar a Rapunzel aprisionada. Mas eu preciso admitir que eu
tenho necessidade de ter alguém comigo. Pra dividir as contas, pra me queixar
do dia (in)tenso de trabalho, pra enlouquecer de ciúmes, pra tomar sorvete de
tarde quando estiver bem quente, pra pensar em casamento e me frustrar por não
ser correspondida neste projeto ou pra não pensar em casamento agora, pra compartilhar
afeto e estranhezas e insegurança. Eu não sei se é exatamente de você que eu
preciso. Mas se for pra fazer tudo isso com alguém tão bonito e perdido e
confuso e doce como você é, então eu acho que posso pensar na possibilidade de
nós dois. Na verdade não posso, porque tenho que sustentar a farsa da mulher
realista e segura que sabe exatamente o que esperar de um homem. Poxa, eu sou
ansiosa e obsessiva. A quem eu quero enganar? Fico com remorso de induzir meus
amigos a pensarem que querem ser bem resolvidos como eu. Eu sou uma fraude e é
triste reconhecer.Eu queria muito que você estivesse mesmo louco por mim. Que
estivesse escrevendo e reescrevendo mensagens de texto que nunca serão enviadas
porque você não quer parecer vulnerável, ou leviano. Eu disse que não ia
romantizar isso. E na verdade nunca vou admitir que romantizei. Mas eu queria
tudo isso por pura vaidade. Narcisismo. Nada mais. E eu sei que esse tipo de
bem querer é perigoso. Tudo bem, estou fazendo grande esforço pra parecer
realista e consigo em grande parte do dia. Você ainda não tem história suficiente
pra ser alguém tão importante a ponto de merecer uma carta. É que essa carta não é pra você. É pra mim. Pra eu organizar a
confusão do meu juízo e continuar atuando como esta tal mulher bem resolvida e compreensiva. Eu sei.
Não sou tão boazinha assim. Sou egoísta e vaidosa. Mas isso é pra você entender
que não é preciso me poupar, que eu posso perfeitamente dar conta das minhas
frustrações. Não é você quem decide se suas inseguranças vão me fazer mal,
porque tenho autonomia pra enfrentar o que você é. Então, vá em frente, me
frustre. Eu agüento. E, se por acaso, você tiver disposição pra enfrentar as
insatisfações de uma histérica, até o limite da sanidade que sustenta uma
relação saudável, estou aqui! É isso!
3 comentários:
Bravo! :)
Não consegui desvendá-la (como se por uma turva descrição de si isso fosse possível, me desculpe a franqueza!), parece que conseguiu me perturbar. Posso chamá-la de incógnita? "Sr. Incógnita"... És uma peça única e rara, acho que não será tão fácil encontrar seu encaixe.
Como disse, tentando te decifrar fiquei ainda mais confuso, um desequilíbrio que faz bem, que fez ascender um querer olhar mais de perto, com aquele pensamento cruel de talvez nunca conseguir compreender este ser Janna histérica, mas me contento em somente te olhar, olhar ... mesmo correndo o risco de perder a visão, ou se me permite, sentir teu cheiro a ponto de embriagar-me com ele.
Enfim peço, mesmo sabendo que eu não tenho esse direito...
Aliás, é melhor você mesma dizer,posso?
[Abraço/De:Um alguém]
Janíssima, quase poderia transformar esta sua carta pra você mesma em um mantra pra eu recitar cotidianamente.
Tocou-me profundamente.
Beijos que a abraçam.
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